Na intimidade: Niasa entrevista o Rapper Igão Ferreira. Sem freio na ladeira!

Niasa: Salve meu mano, que da hora você aceitar essa troca de ideia, isso enquanto viabilizamos a sua ida ao nosso podcast. Aqui será um esquenta.

Igão Ferreira: Salve Niasa satisfação total, obrigado de coração que Deus abençoe grandemente. Vamos nessa, troca uma ideia da hora, marcha.

Niasa: Igão, vou te falar mano, vou de voadora, na intimidade heim. Igor Ferreira é seu nome de batismo?

Igão Ferreira: Sim, Igor Lafaiete Ferreira da Silva

Niasa: Qual a sua quebrada?

Igão Ferreira: Sou de Santo André ABC Paulista, nascido e criado nas ruas do Jardim Santo Antônio, uma quebrada que fica próximo do Jardim Elba, Fazenda da Juta, São Mateus. Próximo do Parque das Nações onde nos anos 80/90 tinha um dos melhores, se não o melhor baile da época o Clube House.

Niasa: Como foi a infância meu mano?

Igão Ferreira: Irmão, não foi muito diferente da infância da maioria das crianças pobres do meu bairro, um pouco diferente das outras crianças que cresceram comigo tá ligado. Filho de uma trancista (assim chamadas hoje quem faz trança) e de um Pintor. Passamos poucas e boas, mais graças a garra e esforço da minha falecida mãe nunca faltou o básico na mesa.

Niasa: Estudou? Se formou? Era comportado, ou da turma do fundão?

Igão Ferreira: Estudei até o 2° ano, depois me formei no ensino médio com supletivo, comecei a trampa cedo com 13 anos na feira. Sempre fui esforçado nas matérias que me interessava história era uma delas, mesmo sendo esforçado o fundão sempre foi meu lugar. Até por conta de ser alto não dava muito pra fica na frente kkkk. E sempre batucando na mesa chamava a atenção dos professores então o fundão me atraia mais.

Niasa: Top, rsrsr. Você é bem ligado ao esporte né mano? Joga uma pelada?

Igão Ferreira: Joguei muito futebol, hj o joelho não deixa mais, mais estou sempre na beira do campo vendo um futebol de várzea torcendo para o Clube Atlético Alvi-Negro time da minha quebrada, cresci nesse campo que era a 2 quarteirões da minha casa.

Niasa: Como foi o primeiro contato com a música? Foi o rap?

Igão Ferreira: Com a música desde o ventre da mãe que era porta bandeira, na infância via minha mãe fazendo trança ou lavando roupa no quintal e cantando Almir Guineto e sambas de outros sambistas.

Niasa: Quando você startou, vou fazer um rap?

Igão Ferreira: Fui apresentando ao Rap pelo meu falecido primo Marquinhos, que me mostrou em vinil o disco do Thaide & DJ Hum e Racionais, aquilo me deu um start e na minha cabeça era aquilo que eu queria ouvir pra sempre.
Sempre fui muito da zoeira mulava muito meus amigos com paródias e um grande amigo de infância Bruno Mangilli me disse um dia: porque você não canta rap? Eu fiquei com aquilo na cabeça tinha uns 12 pra 13 anos de idade. Foi quando resolvi começa a escrever umas parada, de lá pra cá o Rap a música tomou minha vida de uma forma que nunca mais foi a mesma. Aproveitando a oportunidade Bruno obrigado pelo pontapé inicial.

Niasa: Qual foi a primeira música que você escreveu, como foi?

Igão Ferreira: Meu primeiro som falava de um mano viciado no crack, não me lembro a letra mais era sobre isso, cresci vendo muitos manos mais velhos se acabando nessa fita e já tinha isso na cabeça de que aquilo não era bom.

Niasa: A primeira música no estúdio, foi de boa, teve dificuldade?

Igão Ferreira: Manoooo, estava totalmente perdido, era a música que fiz pra minha mãe que infelizmente não me viu nos palcos, faleceu em 2003 na semana do dia das mães. Uma produção do DJ RM, e com a ajuda do Bola 8 gravamos, mais foi tenso demais, a emoção, a sdds, a alegria de gravar a primeira música, enfim uma mistura de sentimentos.

Niasa: Que coisa da hora meu mano. O que você diria pra molecada que tem o sonho de iniciar na música?

Igão Ferreira: Diria a frase do Felipe Ret na música poesia acústica “tu pode não ter talento, mais raça é obrigação”. Nunca desista pois os sonhos é o que nos move.

Niasa: Igão, é comum a gente saber da história de grandes rappers com envolvimento no crime e prisões. E são salvo pelo rap. Como foi a sua vida? Se envolveu ou foi salvo antes de entrar?

Igão Ferreira: Já fui usuários de drogas (maconha e cocaína), o crime nunca foi pra mim, minha coroa sempre dava conselhos, e eu e meus irmãos sofremos muito com a falta do meu Pai que ficou preso por alguns anos, então nunca quis passar por cadeias, visitei meu Pai quando era moleque e tal. Posso dizer que antes de entrar, a música já me tirou do crime.

Niasa: Você já sofreu preconceitos meu mano? Como você lida?

Igão Ferreira: Sofro até hoje, por ser preto, pobre, tatuado e não ter a cara da “sociedade”. Fui discriminado por ser preto, por ser filho de ex-presidiário, por ser pobre. Várias vezes vidro fechado no farol porque estou atravessando a rua, piada sobre minha raça e até mesmo pra entra nos bancos é marcados.

Niasa: Irmão a música “A Falta Que Você Me Faz” eu estralo lá na Rádio, curto de mais. Qual a história dela?

Igão Ferreira: Minha mãe faleceu em 2003 numa quarta feira, enterramos na quinta e domingo foi dia das mães. Foda!!! Era um outro sampler, uma outra letra, mais já no grupo Conexão leste abc não me lembro o ano agora, resolvi reescreve-la e veio essa nova letra, um novo sampler.
A Falta Que Você Me Faz é a saudades que um filho tem da sua amada mãe, as pessoas conversam em rodas de amigos falando da mãe e tal, eu sempre digo me lembro da minha mãe, sinto muito saudade dela, mais não tenho muitas coisas a contar porque Deus só permitiu que ela ficasse ao meu lado por 16 anos, idade que tinha quando ela faleceu. Essa música só consegui gravar em 2023 pra tirar o nó da garganta foi difícil e agradeço imensamente ao Marrom SNT pela participação e por me ajudar a solta a voz. Uma produção que começou com Erick 12, foi pro DJ Luiz e o beat foi finalizado com Paston Tom.

Niasa: Que história de vida heim mano. Igão, com a tecnologia, internet, redes sociais você acha que está mais fácil gravar e lançar músicas?

Igão Ferreira: Sem duvidas ficou bem mais fácil, não se tem mais aquela parada de colecionar CDs, vinil e tal. Hoje tudo e plataformas digitais e rede social, a Internet é o maior veículo de comunicação nos dias de hoje.

Niasa: Você é ligado a política, vive uma causa, ou se posiciona mais neutro?

Igão Ferreira: Não sou muito de política até porque qualquer um que senta na cadeira de presidente eu sou contra, não me lembro de quem é a frase mais ouvi no podcast do Brown e é a verdade. ENTRE ESQUERDA E DIREITA EU CONTINUO PRETO.

Niasa: O que você está ouvindo hoje?

Igão Ferreira: Ouço muito Djonga entre outros grupos. Intelectos do Gueto pesado demais, Ordem Própria entre outros.. Eu ouço de Marvin Gare a Mumu de Oliveira. De Chico Buarque a Dr. Dre, de Facção Central a João Silva mais Eduardo Taddeo, Racionais, Bruno Chinna e Intelectos do Gueto estão todos os dias batendo no fone.

Niasa: Sobre o rap atual, você tem alguma crítica, ou de boa cada um fala o que quer?

Igão Ferreira: como dizia Nelson Sargento velha guarda da Mangueira: Mudaram toda sua estrutura te empulseram outra cultura e você não percebeu. Ele remete a frase no samba “Agoniza mais não morre”.
O Rap tbm agoniza mais não morre, ainda temos grandes nomes como já citei acima e outros mais: Dexter, Criolo, Realidade Cruel, Sequestro sonoro. Consciência Humana enfim se for falar todos a maneira ficará gigante rs.

Niasa: Igão, eu tive o prazer de ouvir em primeira mão a música “Orgulhosamente me apresento” conta aí, o que você está preparando pra geral?

Igão Ferreira: Na música “Orgulhosamente me apresento” eu trago a minha cara tanto no rap como no samba, filho de porta bandeira, irmão de sambista, irmão de rainha de bateria, criado nas ruas ouvindo rap, muitas vezes nos barracão de escola de samba fazendo fantasia, nos campos de várzea, mano eu sou o que relato no som, uma vibe positiva e a narrativa reta eu sou assim, podem me tirar tudo menos o que a música me trouxe de bom, minha essência.

Niasa: Conta mais pra gente, vai vir um EP? Serão quantas músicas, e tem umas participações, correto?

Igão Ferreira: Na verdade resolvi mudar os planos, o EP agora não é prioridade preciso voltar a cena, preciso mostrar minha cara com singles, participando com os manos nos feat, e depois que estiver mais estruturado aí venho com um disco com 10 ou 12 faixas e algumas participações.

Niasa: Mano, você está escrevendo muito. Parabéns. Como é esse processo criativo?

Igão Ferreira: Sou pintor, alpinista de profissão, muitas vezes as ideia vem quando estou pendurado kkkkk, muito loko isso. Mais nas minhas músicas procuro trazer a realidade que vivo, a realidade do povo sofrido sendo ela de momentos bons e ruins. A música também é diversão não só protesto não podemos esquecer que gostamos de curtir, dançar e ser feliz.

Niasa: Mano, curti esse papo, só aprendizado! Vamos deixar um pouco pro Podcast Rap no Movimento heim.

Igão Ferreira: Aguardo ansiosamente pelo podcast, será uma grande honra estar no programa. Agradeço imensamente pelo espaço, pela oportunidade, a música não para e aproveitando o trocadilho o Rap sempre Em Movimento tmj Niasa máximo respeito e parabéns pelo corre, o Rap precisa de pessoas assim iguais a você e sua equipe.

Niasa: Igão, rapidão!

Niasa: Qual o seu sonho?

Igão Ferreira: Ver meu filho que é uma criança autista crescer num país menos desigual.

Niasa: Pesado mano! Um grupo?

Igão Ferreira: Intelectos do Gueto

Niasa: Um Rapper?

Igão Ferreira: Mano Brown

Niasa: Uma mina do rap?

Igão Ferreira: pode ser 2? Rs. Minha prima Lica do Grupo Du Alto e Lauren Priscila

Niasa: Uma música?

Igão Ferreira: Essa é pra pega a visão da letra. “Com a perna no mundo do Gonzaguinha”.

Niasa: Uma música sua?

Igão Ferreira: A falta que você me faz

Niasa: Meu mano, valeu pela troca, deixe aí suas considerações, como quiser.

Igão Ferreira: obrigado Rap no Movimento, obrigado Niasa e toda equipe. Forte abraço aos meus manos que estão comigo na caminhada. Peço desculpas mais não vou citar nomes pra não esquecer de ninguém.

Igão Ferreira: Sem freio na ladeira paz a todos.

Niasa: Meus manos, essa ideia foi com meu mano Igão Ferreira, siga o mano lá no Instagram e bora pra cima. Fala aí, quem você quer ver aqui na Intimidade? Comenta aí.

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